Então Polícia Judiciária? Esclarecimentos, por favor!

No dia 4 de Outubro de 2014 publiquei o meu primeiro texto aqui neste espaço. Há um mês e mais uns pozinhos.
Aceitei o desafio da minha consciência e daqueles que me ofertam amizade e atenção.

Há um mês e mais uns pozinhos…

Durante um mês e mais qualquer coisa falámos sobre o “Caso Meco”, a Associação Sindical dos Funcionários da Polícia Judiciária, assim como das Confissões de crimes pelos quais outro cumpria pena de prisão. Respostas? O meu caro Leitor tem alguma resposta? Os “comentadores-cogumelo” das manhãs  antes do almoço responderam?

A responsabilidade de dar respostas não é do meu paciente Leitor ou mesmo dos “comentadores-cogumelo” (ainda que alguns sejam “ex-Polícia Judiciária”). Quem deve dar resposta, gerir a informação, informar esclarecendo é a própria Polícia Judiciária!

Steve Adubato escreveu um livro intitulado “What were they thinking” – “O que estavam eles a pensar” (tradução nossa) – no qual se pode ler: “[comunicação de crise] é um método estratégico de resposta que permite informar, confirmar, cimentar lealdade e suporte, ou, pelo menos, garantir o benefício da dúvida”.

Vamos focar a nossa atenção somente neste “mês e mais uns pozinhos”.

A Polícia Judiciária não veio uma única só vez a terreiro informar, esclarecer ou tentar tão somente ganhar do “público” o benefício da dúvida!

Não precisam. O trabalho “deles” é secreto. Estão escudados pelos seus resultados!

Claro que precisam: “O estripador de lisboa”; o “Caso Rui Pedro”; o “Caso Rei Ghob”; o “Caso Joana”; o “Caso Maddie”; o “Caso Meco”; as “Confissões de Artur Gomes”; o “Caso Freeport” e aqueles que somente alguns conhecem mas calam. Escudados pelos resultados? Piada, não?

Trabalho secreto: Vão à Gomes Freire e vejam-nos a entrar e a sair. Presentemente a sede já tem parqueamento subterrâneo, mas vão a qualquer unidade regional e podem observar os carros que estão parqueados à porta (ainda bem, para os “primos janotas”, que não existem em Portugal organizações como a E.T.A., aí sim o subsídio de risco era justificado).

A “boa comunicação” de uma instituição – observando-se o valor da mesma em momentos de crise – está estreitamente relacionada com a percepção que a opinião pública tem desta.

No mundo actual, na era da notícia ao segundo, em segundos, a instituição tem de saber aproveitar a janela de oportunidade para obter a confiança dos seus pares, parceiros de actividade, ou no caso em apreço, prestar idóneo e profícuo serviço público.

A Polícia Judiciária somente “aparece” na mega-apreensão do produto estupefaciente, na divulgação do Laboratório de Polícia Científica – que, diga-se de passagem, não se encontra devidamente creditado e acreditado! Não o sabia o meu Leitor? Pois pasme!

A P.J. tem de esclarecer, tem de assumir de uma vez por todas que não se pode remeter ao silêncio, como sempre fez e faz, esperando que no segundo seguinte surja outro caso que faça esquecer os erros e omissões do anterior.

Ouvi eu, paciente Leitor: “Vamos aguardar para ver o que vai dar” ; “Amanhã já não falarão disto, deixem estar como está!”

A instituição Polícia Judiciária obrigatoriamente tem de se encontrar preparada para responder a questões difíceis, não pode esperar que tudo vá passar, não deve depositar fé na solução sem acção, procrastinar o gesto e a fala. Actualmente não é possível.

  • Não foram realizadas perícias no “Caso Meco”? – questiona a opinião pública.
  • Deixem isso para o Procurador, ele é que manda na investigação. – Dizem entre si os elementos da P.J.

Quanto procuradores já viram aparecer no anúncio de mais uma apreensão de droga? Não é o procurador quem manda na investigação!?Deixem isso para o Procurador, ele é que manda na investigação. – Dizem entre si os elementos da P.J.

Quantas vezes se ouve dizer que a P.J. prende, depois o Juiz solta-os? É a voz da ignorância. O Juiz só pode decretar a prisão de alguém, sustentando a sua decisão na matéria – provas, testemunhos, perícias – reunida pela Polícia Judiciária.

Trata-se de ignorância, facilitismo, falta de honestidade intelectual, corporativismo, afirmar que “eles” prendem e o “outro” solta-os.

Estou a cometer um erro de apreciação? Estou a ser injusto? No “Caso Meco?” ainda estão, novamente, a investigar e não podem falar. É isso?

Relataram-me que certa família que perdeu ente querido – episódio suicída – esteve vários meses sem saber o que realmente se passou sem ter acesso às últimas palavras escritas do familiar, assim foi porque os “primos janotas” não tinham disponibilidade para receberem as pessoas.

Expliquem isto!

No “Caso Meco” alguém tinha que informar, esclarecer quem é directamente interessado e quem pode vir a necessitar de recorrer à instituição: os restantes cidadãos.

Um dos pressupostos para um suspeito/arguido ficar em prisão preventiva é o facto de o mesmo, ficando em liberdade, perturbar gravemente a ordem e a tranquilidade públicas.

Permitam-me afirmar que a imagem de falibilidade, ignorância, laxismo, incompetência e ostracismo auto-imposto da Polícia Judiciária perturba gravemente a ordem e tranquilidade públicas!

Há uns anos um indivíduo armado com uma pistola metralhadora vitimou mortalmente várias pessoas. Tudo se passou numa cidade da Grã-Bretanha. O atirador esteve em fuga, tendo sido tudo transmitido em directo pela Sky News.
O paradeiro do sujeito era desconhecido.
A transmissão arrastou-se por diversas horas até à detenção do sujeito.

Durante as várias horas de transmissão, de meia em meia hora, uma agente da polícia local, elegante, de cabelo apanhado, surgia apresentando “reports” de dez minutos ou menos, não respondendo a questões.

De 30 em 30 minutos!

Muitas das comunicações tinham como objectivo reportar que as diligências no terreno continuavam decorrendo da melhor maneira. Céus! Eles nem sabiam onde estava o agressor.

Detido finalmente o sujeito, passada cerca de uma hora após interceptarem o mesmo, fizeram um comunicado e responderam durante 20 minutos às questões dos jornalistas presentes.

O que ganhou a Polícia inglesa ao (supostamente para quem não sabe fazer) expôr-se desta forma aos “media”?

  1. Tranquilidade para a investigação e para as equipas no terreno;
  2. Tranquilidade para a população: “Eles estão e continuarão a trabalhar.”;
  3. Gestão da informação veiculada (controle da informação que poderia chegar ao suspeito e eventuais cúmplices);
  4. “Alimentação” calculada dos famintos “media” ingleses.

Resumindo: comunicação capaz numa “era da comunicação” por parte da Polícia inglesa.

Uma inteligente abordagem pro-activa que permitiu controlar uma situação de crise.
Claro que o “lobby” dos “comentadores-cogumelo” não quer ouvir falar disto, ficavam todos sem emprego!

Especuladores natos, construtores de boatos e dúvidas, achar-se-iam sem oxigénio para os seus estultos comentários.

Por outro lado, as famílias do “Caso Meco”, o sujeito que ainda está preso após a confissão do outro, eu e o meu amigo Leitor que todos os dias acendemos uma velinha para que o Fado não nos coloque nas mãos da Justiça, se a nossa P.J. trabalhasse desta forma, ficaríamos todos muito mais tranquilos e orgulhosos da instituição, podendo então com sustentação factica afirmar: “A nossa P.J. deve ser uma das melhores polícias do mundo!”

(8 de Novembro de 2014)

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