Prisão Preventiva: 2 anos, 5 meses e 21 dias !!!!
Leitura da sentença, faltam : “É já amanhã !!!!”
Esclarecimento prévio: Foi noticiado na imprensa nacional que o Inspector João de Sousa, caso fosse ilibado, realizaria nu integral público. Tenho que fazer uma correcção e esclarecer: não é Se for ilibado, é quando alcançar a liberdade, o que pode acontecer com a aplicação de uma pena suspensa! Eu quero é despir-me!
“Se”. Pronome pessoal. Indica: “Acção que o sujeito pratica voluntariamente sobre si próprio”: “o recluso matou-se”, ou, “facto que se passa com o sujeito e nele recai, sem intervenção da sua vontade”: “A P.J. acabou-se”, ou ainda, “reacção psicológica do sujeito diante de um facto que a provoca”: “o arguido alegrou-se com a decisão da Juiz.”
“Se”, também pode assumir a propriedade de conjunção. “Introduz orações em que se exprime uma hipótese de realização impossível”: “se eu soubesse, tudo seria diferente”, ou, “uma hipótese cuja realização é possível, provável ou desejável”: “Se a Justiça for correctamente aplicada, tenho que tirar a roupa!”
Esta pequena palavra – “Se” – duas letras apenas, é tão importante, tão capital nas nossas vidas. Nós, humanos que pensamos, que morremos e sabemos que vamos morrer, que vivemos mais na projecção do futuro do que na experiência (a única real) do presente.
Reparem, no Amor: “Se você disser que não me ama / Tem que me dizer mais do que uma vez / Tem que me fazer acreditar em coisas que eu não quero ouvir.” (Roberto Carlos e Erasmo Carlos)
“Se você disser que eu desafino amor / Saiba que isso em mim provoca imensa dor.” (Tom Jobim e Newton Mendonça)
“Se não esqueceste o amor que me dedicaste / E o que escreveste nas cartas que me mandaste.” (D. Amália Rodrigues)
Estão a ver, Caros Leitores, a importância desta pequena palavra!
Para os verdadeiramente românticos com as suas “Dulcineias” distantes, inacessíveis, ausentes: “Se o amor se vai / A quem dar as flores / Se não há amores para conquistar.” (novamente o “rei” Roberto Carlos e com dois “Se”!)
Querem ver na Justiça?
“Se o Conselho Superior da Magistratura repreender, castigar o Juiz Carlos Alexandre, ele não quer mais trabalhar na “Operação Marquês”!”
Um dia depois da publicação deste opúsculo – 20 de Setembro de 2016 – será lido o acórdão da sentença do meu julgamento. Tantos “se” colocam-se agora…
… e alguns “será”!
Em 1956, o mestre Hitchcock realizou o filme “The man who knew too much” (“O homem que sabia demais”) e apresenta ao mundo a popular canção escrita pela parceria Jay Livingston e Ray Evans. Todos a conhecem: “Que sera, sera.”
Muito apropriada: “Que sera, sera / Whatever will be, will be / The future`s not ours to see / Que sera, sera / What will be, will be.”
(“O que será, será / o que será, será / o futuro não nos é dado a ver / o que será, será …”)
“O homem que sabia demais” … não! Só a canção é que é apropriada. Se eu soubesse demais, estaria em Liberdade a aguardar a leitura do acórdão, como outros …
O que será que vai acontecer? Pena efectiva de prisão? Pena suspensa?
Se estou há tanto tempo em prisão preventiva (recorde em Portugal e na Europa!) creem que fiz algo, logo, devo ser condenado a prisão efectiva!
Mas se não foi produzida prova de qualquer tipo de corrupção, então será pena suspensa pelo crime de violação de segredo de funcionário?
E se, mais um inédito na Justiça lusa, eu for o primeiro a ser condenado por “vantagem não patrimonial, ou a sua promessa”? Esta insubstancialidade, qual “Espírito Santo”, é muito difícil de rebater!
“Sr. João, vai para casa se tudo isto, como creio, foi para o castigar pelo incómodo que a sua escrita e palavras na televisão causaram/causam ao sistema!” – um guarda, um advogado, um comentário neste blogue, um amigo.
Mas, se assim for, que Justiça é esta? Que país é este?!
Eu acredito que vou ser condenado a pena suspensa e estarei em casa no dia 20 de Setembro, o mais tardar a 26 de Setembro, se a Meritíssima Juiz não conseguir ler o acórdão num só dia, mas… mas a minha prisão preventiva, os despachos para a manter são um malum signum (“mau sinal”).
Talvez se eu tivesse fingido melhor que não sabia o que sei, talvez se eu cedesse a “eles”, talvez…
Arrependido? Claro que não. Poderia estar se não fosse neto do Armando e da Leonor, filho do Fernando e da Julieta, pai da Leonor, da Helena e do João Jr.!
Estaria se o João de Sousa não fosse o João de Sousa: Compus sui semper!
Se a minha querida e saudosa avó tivesse um par de glândulas genitais masculinas, seria o meu avô. (aqui está um belo truísmo!)
“Se”, encerra incerteza. Uma certeza tenho eu, demonstrei-o com grande prejuízo pessoal e daqueles que amo: é incontornável que tenho as referidas glândulas no sítio e aí permanecerão independentemente da decisão do Tribunal!
Deixemos a questão “pendente” da testosterona…
Dia 20 de Setembro o que será, será. O verdadeiro problema não é o que a Vida, o Mundo, nos traz, o problema é o que fazemos com o ofertado: bom ou mau!
Se, se, se…
Certezas: a minha mulher foi colocada (por um ano) esta semana. Se assim não fosse é que estávamos mal. Parabéns “mãe coragem”!
Certezas: dia 20 de Setembro (mais tardar 26 de Setembro) é “sim ou sopas”. Creio que não será mais sopa de “Ébola”!
Certezas: dia 20 de Setembro “Riso admirável de quem sabe e gosta / Ter lavados e muitos dentes à mostra”, independentemente do resultado. A coordenadora Maria Alice já não pode dizer o mesmo, consequência do hábito tabagista e do sorriso amarelo dos tacanhos!
Certezas: “Chorar a valer não é para mim conseguir / Então morrer por morrer que seja a rir”. Sentido de humor é sinal de inteligência, logo: fato azul forte, gravata “Armani” cor de ouro com pequenos losangos em azul forte, a imitar diamantes e lenço de seda cor de ouro (encomendado propositadamente para o efeito) na lapela. É este o único ouro e diamantes que possuo, como aliás ficou provado durante o Julgamento!
“O filho do homem”, de René Magritte ilustra este texto. Tenho uma cópia na minha biblioteca, em casa, no “castelo”. Os meus colegas viram, observaram. Magritte sobre a sua obra: “[…] É algo que acontece constantemente. Tudo o que vemos esconde outra coisa, nós sempre queremos ver o que está escondido pelo o que nós vemos. Há um interesse naquilo que está escondido e no que o visível não mostra. […]”
Eu sei porque estou preso. Eu sei o que escondido foi. Eu estava lá, daquele lado das grades…
Rudyard Kipling escreveu um poema que tem o mesmo título que este modesto texto:
“If”(Se). A tradução (também modesta) é minha. Se puderem, leiam o original.
Deixo-vos excertos: “Se és capaz de manter a calma quando / Todo o mundo à tua volta já a perdeu e te culpa / De crer em ti quando todos estão duvidando / e para esses permitires a sua duvida / Se és capaz de esperar sem te cansares por esperar […] Se és capaz de suportar a dor de ver mudadas / em armadilhas as verdades que disseste / ou observares as coisas pelas quais deste a vida, destruídas / e refazê-las com ferramentas rombas […] Se és capaz de preencher o imperdoável minuto / com sessenta segundos de merecida corrida / Tua é a Terra com tudo o que nela existe / E – o que é mais importante – serás um Homem, meu filho.”
Até terça-feira, 20 de Setembro (o mais tardar segunda-feira, 26 de Setembro) em Liberdade (como prometido: na “humilde pequenez nua” com que vim ao mundo!).
Até lá! Apareçam! Ah! E não se esqueçam: “Se cá nevasse, fazia-se cá ski!”