“Contas de Somar e de Sumir”

Prisão preventiva: 2 anos, 2 meses e um dia

“Contas de somar e de sumir”: Aqui em “Ébola” é aquilo que mais se faz!

Somam-se os dias para apurar quantos dias faltam para a saída precária, o meio da pena, os dois terços, os cinco sextos… parecem devotos desfiando contas de um rosário muito pessoal, muito particular e especial.

Somam-se dias para se desaparecer daqui, para se sumir!

– Daqui a três meses, nova apreciação da medida de coacção! – soma-se com a esperança de se ser o próximo sumidiço.

– O outro foi ao fim de 5 meses… talvez eu também! – após somar mais um feliz sumido.

E eu escuto-os. Eu, que desejo sumir daqui há 2 anos e dois meses (domingo, 29 de Maio de 2016 é o resultado da excruciante adição de 794 longos dias).

Escuto-os, enquanto caminho pelas alas da prisão e apanho pequenos excertos das mesmas conversas de sempre! E somo: A minha ala tem 14 quadrados de tijoleira de largura e 132 de comprimento, portanto, estão colocados no chão, 1848 mosaicos. Preciso de dar 37 passos para percorrer o espaço. Baptizei de “Passos Perdidos”, o local!

A outra ala – a “Av. da Liberdade” – apresenta, igualmente, 14 quadrados de tijoleira de largura mas é maior em comprimento: 170; logo, possui 2380 mosaicos! Tenho de dar 44 passos para completar o percurso.

Há 2 anos e dois meses que calcorreio os descritos espaços!

Estou louco, diz o(a) Leitor(a)?

Acho que não… não sei! Eu faço estes cálculos e não penso nas somas para sumir, ou seja, não penso em final de pena, meio da pena, “terços” e “sextos” como os outros porque estou num “Limbo judicial”, estou em “banho-maria” há, impensáveis, 2 anos e 2 meses!

Não tenho direito a planos, a somas, ao desejado sumiço. As minhas adições são outras, somo dor e sofrimento, incerteza e desprezo!

O genial Miguel Esteves Cardoso (MEC), na sua crónica de Sábado, no jornal “Público”, 21 de Maio de 2016 – “Sofrer é mau” – inicia deste modo a sua apreciação pessoal dos factos da vida: “[…] Continua-se feliz enquanto um dia mau é uma surpresa e, no dia seguinte, deixando de ser surpreendente e continuando mau, ainda se tem esperança de que a maldade seja interrompida […]”

Aquando da leitura somei longos minutos olhando o vazio, concluindo que a minha esperança há muito havia sumido! Desta vez o genial MEC não tem razão!

No calendário de possuo na minha cela coloco cruzes sobre os dias – “mais um, menos um” – desta longa jornada, agora maior porque quem investigou, não adicionou competência aos seus actos, revelando-se um autêntico sumidouro onde a proficuidade e excelência se perderam.

Confesso: Estou cansado!

“Quando travas uma batalha, e mesmo estando a vencer, prolongá-la durante muito tempo levará ao entorpecimento das tuas forças e ao enfraquecimento da tua vantagem. Se sitiares uma cidadela, exaurirás as tuas forças. Se mantiveres os teus exércitos em campanha durante muito tempo, as provisões tornar-se-ão insuficientes” (in “A arte da Guerra”, Sun Tzu).

Eu estou a perder a batalha, estou entorpecido, exausto, não tenho ordenado há 2 anos e 2 meses, desde dia 18 de Maio que a minha mulher está desempregada. Eu li e estudei Sun Tzu!

Mas não sou eu que prolongo a batalha, é-me imposto! Será que a acusação, o Ministério Público, leu “A arte da guerra”?

Jian Lin (dinastia Tang, 618-906) comentou o Mestre Sun, sobre esta passagem:

“Mesmo derrotando o inimigo em batalha, não lucrarás com manter-te em guerra demasiado tempo. Em operações militares, é importante obter uma vitória total; se as tuas forças se entorpecem e se a tua vantagem se enfraquece, se sofres baixas e de cansaço da batalha, acabarás esgotado.”

Será uma “baixa” para a Acusação (Ministério Público) e para a Investigação (Dra. Maria Alice) esta “manutenção da guerra” por mais 30 dias (veremos se não serão mais!) por causa da diligência da avaliação do ouro (3 anos após o início da investigação) que não foi capaz e de forma legal realizada?

Eu, sinceramente, sinto que estou a perder: somo derrotas, sumiu-se o entusiasmo. Como se sentirá a Acusação?

Eu ando a somar preocupações e notícias!

“Justiça apanha a Veiga 180 milhões em luvas” – mas somou uma vitória: está em casa, seguro com polícia à porta!

“Pinho exigiu pensão para ir para o governo”; “Negociou acordo de reforma antecipada, sem preencher requisitos, com Salgado e Mosqueira do Amaral”, “Reforma foi condição para aceitar a pasta da economia” (?!?)

Este indivíduo só aceitou servir o país se o particular para quem trabalhava assegurasse um pagamento?

Faz lembrar o Inspetor da P.J. envolvido numa fraude do ouro que, segundo a acusação, era corrompido para dar apoio à associação criminosa!

Vou pedir 7,8 milhões ao meu co-arguido à semelhança deste senhor que simulava um “par de cornos” num debate na Assembleia da República!

““Operação Furacão”: suspensão provisória mediante pagamento de 2 milhões.” Eu não teria disponibilidade económica para tal (e não tenho esse problema com o fisco), mas porque razão negaram o pagamento das dívidas ao fisco ao meu co-arguido!?

Somam-se as perplexidades. Adicionam-se preocupações!

O meu terror diário: aconteceu algo à “ninhada” e eu aqui recluído, sem saber ou poder fazer algo!

Esta semana que passou:

“Acidente com autocarros escolares em Alverca”. Deuses! Será que a Helena tinha alguma visita de estudo? A Leonor? Como posso saber se algo aconteceu? Já esgotei a minha chamada de 5 minutos!

Deuses! Distrai-te! Vai contar mosaicos! Vai realizar adições!

Esta semana que passou:

– Pedro, fui ontem com o Jr. para o hospital, magoou-se num pé, estava a brincar no jardim… – a minha mulher nos últimos 40 segundos da conversa diária.

Só o soube 24 horas depois: estiveram 8 horas nas urgências hospitalares!

Onde estão os mosaicos? Vai fazer contas, não deixes a serenidade sumir!

Aqui contam-se os dias para o fim do tormento, da provação, da privação, eu nem isso posso fazer.

Somados os dias (e os mosaicos) sou o recordista, assim como os meus quatro co-arguidos presos, “de prisão preventiva em Portugal”!

Assim sendo, é fácil concluir que eu algo fiz, sou culpado, perigoso meliante. Atendendo a este incontornável facto, na última visita da minha mulher e da “ninhada” concluímos e assumimos: O pai/marido é um criminoso de alto gabarito e a Família tem de o ajudar e apoiar. Chegámos à conclusão que eu já não sou o “Grande Mestre da Ordem dos Magos e Feiticeiros”. Agora sou o terrível e abominável “Gru, o mal-disposto”!

E quem auxilia o “Gru, mal-disposto”?  Os seus fiéis “Mínimos”!

Ali está um deles: o “Mínimo Jr.”! (Na fotografia que ilustra este opúsculo).

Está a fazer contas de somar e de sumir para ajudar o seu “pai Gru”!

Um ábaco é uma prancheta rectangular provida de bolas, usada para calcular.

Bolas ou pequenas pedras, manipuladas por pequenas mãos!

Albo lapillo notare diem, marcar um dia com uma pedrinha branca. Considerar certo dia feliz. Costume antigo dos romanos, o branco era o símbolo da felicidade, o preto da desgraça!

“Mínimo Jr.”, vê se encontras uma “bolinha/pedra branca” porque o “Pai-Gru” está cansado de somar mosaicos negros enquanto caminha!

 

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